Eu não tenho uma faixa etária específica de trabalho. Também não defino as tipologias de sofrimento emocional que acompanho. Porque os tempos de agora, cruzam-se com os os tempos de outrora. Um adulto que me chega, será que me chega adulto? Não. Traz consigo a sua criança, o seu tempo de infância e de que modo isso atravessou os oceanos das diversas temporalidades da sua vida e veio desaguar neste novo espaço - momento presente. Traz-me a sua angústia de um tempo futuro que possa repetir um "menos" seu e um menos eu - "isso não sou eu". Um "sem sentido", para a instalação de um movimento de esperança de vir a encontrar sentidos que são seus, o seu "Eu", o quer, o que não quer, o que gosta e não gosta. Um vir-a-Ser.
Uma criança que me chega, será que me chega sozinha? Criança? Pequena demais, frágil demais, forte demais ou ainda, adulta em excesso?
E um adolescente, entre o medo de perder e a ânsia de crescer.
E um idoso, entre o medo de morrer e a angústia daquilo que não viveu, poderia ter vivido. Um vivido de falhas e de memórias de não poder sido criança ou adolescente. Cansado do fazer, do sobre(viver), quer apenas Ser. Vai tarde ou vai a tempo? Vai a tempo, o seu, não do outro.
Estamos enganados quando pensamos que só trabalhamos com isso e aquilo. Se aceitarmos que as temporalidades se entrecruzam-se e misturam-se, então sabemos que trabalhamos com pessoas por inteiro, com sofrimentos que não se podem dissecar como se fosse algo a extinguir. Uma coisa pode ser apenas uma coisa, mas muitas vezes uma coisa são muitas coisas.
Então com o que eu trabalho? Com todos os seres humanos.
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