PSICOTERAPIA
Para algumas pessoas, o processo psicoterapéutico é encarado como um espaço perigoso, onde se corre o risco de ficar preso ou de se tornar dependente. Medo de que nunca mais acabe. O medo de perder tudo o que se construiu até agora. O medo da mudança. Tantos receios que permeiam a decisão de iniciar uma psicoterapia. Eu sei…
Entre a postura passiva e a ativa, existe uma grande diferença. Às vezes, o risco de apostar no novo pode parecer elevado, até insuportável para alguns... A confiança no outro está quebrada, e é difícil acreditar que algo diferente possa surgir. Contudo, entre as recusas e as resistências, há outro caminho possível: bater à minha porta e eu abri-la, para que possamos, juntos, construir uma “intimidade partilhada”. Ninguém é obrigado ou forçado a permanecer. E, quem sabe, um dia, poderá até regressar?
O que sabemos é que a psicoterapia é o espaço e a relação onde o sujeito poderá confrontar todos os seus medos, angústias e desencontros relacionais. Não, não se espera que a psicoterapia seja um lugar permanente, mas acredita-se que ela deixe uma marca no sujeito para sempre. Marca a esperança de um novo encontro. Marca a aposta do outro em si. Marca o nascimento da confiança no Outro. Marca a transformação, de dentro para fora. Marca, no sentido de gravar impressões benignas no interior do sujeito.
Não, não é suposto que a psicoterapia seja um aprisionamento. Pelo contrário, é esperado que, quando o vento soprar em direção à segurança em si e nos outros, acompanhado de um bem-estar subjetivo e da conquista de um amadurecimento pessoal - condições meteorológicas favoráveis a qualquer partida, chegue a hora de levantar o vôo.
A psicoterapia é o lugar de construir a liberdade individual.
PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA
O QUE É?
As expressões "cura pelo diálogo" ou "cura pela relação" traduzem o eixo central do trabalho psicoterapêutico. Na psicoterapia psicanalítica, a relação entre terapeuta e paciente é o instrumento fundamental de intervenção, permitindo criar um espaço de compreensão e transformação.
Sabemos, com base em décadas de investigação empírica e prática clínica, que a saúde mental não depende exclusivamente de fatores genéticos ou hereditários. Os contextos e relacionamentos nos quais o indivíduo se insere ao longo da vida desempenham um papel essencial no desenvolvimento da psicopatologia. A nossa natureza humana torna-nos vulneráveis ao Outro, tanto nos cuidados essenciais à sobrevivência, durante as fases iniciais e mais dependentes do nosso desenvolvimento, como na forma como interagimos com o mundo. O olhar, o comportamento e a fala dos outros moldam a nossa visão de nós mesmos e do mundo (seguro vs. perigoso; confiável vs. não confiável).
Se é na relação que adoecemos, é também na relação que acreditamos ser possível transformar-nos. Como afirmou António Coimbra de Matos, é na experiência de uma "Nova Relação" que podem surgir mudanças significativas na vida interna e externa do sujeito.
Antes de qualquer transformação, contudo, o que frequentemente emerge é a repetição. Este fenómeno, estudado pela psicanálise através de conceitos como transferência, contratransferência, compulsão à repetição e resistência, ajuda-nos a compreender a dificuldade do processo de mudança. A pergunta central deste processo é: O que nos leva a permanecer em relações e padrões que nos fazem sofrer, mesmo quando desejamos, de forma consciente, o oposto?
A psicoterapia psicanalítica propõe um processo profundo de transformação, que permite ao paciente libertar-se das amarras dessas repetições e abrir-se para novas formas de estar no mundo e nas suas relações.
E nós, nós todos?
Com maior ou menor arte, engenho e empenho, somos autores e atores da e na relação.
Autênticos ou de contrafação; e esta, a diferença. (…)
E tal faz-se no aqui e agora, contigo e comigo, connosco.
No presente e no par. (...)
E, assim, estaremos gratos ao mundo que nos proporciona a liberdade de ser com os outros, abrindo-nos ao mais além pela criação." (Coimbra de Matos, 2016, Nova Relação).
Quais são os objetivos?
Ninguém nasce e escolhe o “berço” onde vem ao mundo, nem os pais que tem. Nascemos com um nome, mas, num primeiro momento, esse nome pouco tem a ver com a nossa identidade. É preciso apropriar-se do próprio nome e da própria história. Nascemos como os sonhos dos nossos pais – alguns de nós, outros, infelizmente, não foram sonhados ou desejados. A consciência de que carregamos e somos muitas coisas que não nos pertencem, ou que percebemos como algo que não vem de dentro de nós, é uma experiência profundamente angustiante. Ao longo da vida, somos constantemente influenciados por fatores externos, como as expectativas familiares, sociais e culturais, que moldam a nossa identidade e a forma como nos relacionamos com o mundo. Durante muito tempo, essas influências não são questionadas nem reconhecidas, o que pode levar à internalização de padrões de pensamento, comportamentos e relacionamento connosco e com os outros que não correspondem à nossa verdadeira essência. Isso gera um conflito interno e uma sensação de alienação, que pode manifestar-se através de sentimentos de inadequação, vazio, culpa, tristeza, ansiedade ou confusão. A psicoterapia psicanalítica, ao trabalhar as dinâmicas inconscientes e a transferência, oferece a oportunidade de revelar e compreender essas "vozes externas" que nos formam, permitindo ao sujeito confrontar-se com esses conteúdos e, finalmente, encontrar uma forma de se libertar deles, construindo a sua própria ética pessoal e singular.
Durante o processo terapêutico, o objetivo não é apenas eliminar o sofrimento emocional, incidindo sobre a eliminação dos sintomas, mas promover uma maior consciência sobre as dificuldades atuais, os sintomas e conflitos subjacentes ao pedido.
Visa permitir que o sujeito se reconecte com a sua autenticidade, ajudando-o a distinguir entre o que lhe foi imposto e o que é genuinamente seu. A partir dessa nova compreensão, o paciente ganha a possibilidade de reconstruir a sua identidade de forma mais congruente com os seus próprios desejos, valores e necessidades, o que resulta numa maior sensação de integração e de bem-estar emocional e psicológico. Esse processo permite que a pessoa se aproprie da sua própria história e encontre um sentido mais profundo e verdadeiro para a sua vida.
A psicoterapia psicanalítica também se destina a expandir a capacidade de pensar e o desenvolvimento maturativo da personalidade.
FREQUÊNCIA
A frequência das sessões de psicoterapia psicanalítica costuma ser a seguinte:
Uma vez por semana: Esta é a frequência mais comum, especialmente nos períodos iniciais do processo psicoterapéutico.
De duas a três vezes por semana: Em alguns casos, sobretudo quando o tratamento é mais intensivo ou quando existem questões mais complexas a serem trabalhadas, o psicoterapeuta pode sugerir sessões mais frequentes. Também pode ser o próprio paciente a reconhecer a necessidade de aumentar a frequência em um determinado período de maior desorganização e instabilidade da sua vida.
A decisão sobre a frequência é sempre discutida entre o terapeuta e o paciente. A frequência e a intensidade das sessões podem ser ajustadas ao longo do tempo, de acordo com o progresso da terapia e as necessidades do paciente.
DURAÇÃO
A duração de um processo de psicoterapia psicanalítica pode variar significativamente, dependendo das características e necessidades do paciente, dos objetivos terapêuticos e da abordagem do terapeuta. A duração do tratamento pode ser de 1 a 3 anos ou até mais, dependendo também da complexidade da situação clínica do paciente. É um processo profundo que visa a transformação e o autoconhecimento, e os resultados mais duradouros tendem a ser observados ao longo de um tratamento prolongado.
EVIDÊNCIA CIENTÍFICA
A psicoterapia psicanalítica tem demonstrado benefícios significativos no tratamento de várias perturbações psiquiátricas, como depressão, ansiedade, perturbações de personalidade, perturbações relacionadas ao stress, perturbações somatoformes (que envolvem sintomas físicos), perturbações obsessivo-compulsivas e perturbações de adaptação, com resultados duradouros semelhantes a outras abordagens terapêuticas (Shedler, 2010). O estudo de Fassbinder, Schauenburg e Germann (2020) conclui que a psicoterapia psicanalítica reduz os sintomas durante o tratamento e promove mudanças duradouras após o seu término, favorecendo uma adaptação emocional e social mais sólida.
Revisões de Leichsenring et al. (2023; 2020), com base em critérios rigorosos, indicam que é eficaz no tratamento de perturbações mentais comuns, como ansiedade, depressão e perturbações de personalidade, mostrando resultados robustos em comparação com a terapia cognitivo-comportamental. Leichsenring, Rabung e Leibing (2021) destacam sua eficácia nas perturbações de personalidade, melhorando a funcionalidade social e emocional dos pacientes. A pesquisa de Trotta et al. (2024) também aponta resultados positivos na ansiedade e depressão em jovens adultos.
Este modelo terapêutico tem sido eficaz no tratamento de crianças e adolescentes com perturbações emocionais e comportamentais. Kramer e van Hooren (2005) indicam benefícios significativos, especialmente em crianças com dificuldades emocionais profundas, enquanto a meta-análise de Abbass et al. (2013) mostra que modelos psicodinâmicos de curta duração têm efeitos positivos em áreas como autoestima e relações interpessoais. Referências Bibliográficas/ Acesso a lista de estudos científicos.